Pela primeira vez em quase 20 anos, Santa Catarina volta a ter seu clima afetado por El Niño de forte intensidade. Outras ocorrências haviam sido registradas, mas todas fracas ou moderadas. E as previsões climáticas apontam para um novembro com mais efeitos provocados pelo fenômeno, com chuvas de maior intensidade e a possibilidade de enchentes.
— Santa Catarina registra uma média de 6,3 eventos extremos por mês na média dos anos com El Niño— explica a meteorologista Alice Marlene Grimm, especialista no assunto e palestrante em um workshop promovido em parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Assembleia Legislativa do Estado (Alesc) na quarta e quinta-feira desta semana.
O monitoramento previu um El Niño de forte atuação em julho, o que causou aumento de chuvas no Oeste do Estado. E a expectativa é que permaneça forte na primavera, diminua a intensidade em janeiro de 2016 e volte com força em maio e julho do ano que vem, se ainda estiver em atividade.
Conforme relatórios da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, do Departamento de Comércio Americano (NOAA), há 90% de chance que o El Niño continue afetando o clima em novembro e 85% de probabilidade que o fenômeno manterá seus efeitos até o início da primavera de 2016.
— O Estado vive desastres climáticos recorrentes e o El Niño sempre é uma preocupação. Sempre cria uma expectativa diferenciada. Temos feito um trabalho muito grande de orientação dos municípios, da organização da base — diz o secretário estadual da Defesa Civil, Milton Hobbus.
A última vez que este evento ocorreu com intensidade forte foi entre 1997 e 1998, quando Santa Catarina registrou 45 dias de chuva nos meses da primavera. Mas, como as ocorrências foram bem distribuídas, não houve fatos traumáticos nas cidades catarinenses.
Situação inversa aconteceu com o El Niño que atuou no início da década de 1980. Em julho de 1983, as chuvas deixaram 197.790 desabrigados e 49 mortos em 90 cidades do Estado. Quase todas as regiões foram afetadas, mas as populações de Blumenau, Itajaí e Rio do Sul foram as mais prejudicadas.
— Foi nessa época que começou a se falar em El Niño. Teve inclusive um workshop organizado pela Epagri com profissionais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), principal referência nacional em climatologia — lembra a coordenadora de meteorologia da Epagri/Ciram, Laura Rodrigues.
Indicativo de enchente pode não se concretizar
Os meteorologistas afirmam que o fenômeno exige alerta por ser um indicativo de enchentes no Estado, mas não descartam a possibilidade de a previsão não se concretizar. Os especialistas também salientam que as catástrofes climáticas não estão necessariamente relacionadas à presença do El Niño. Em novembro de 2008, apesar de não ocorrer alterações climáticas, 135 pessoas morreram após as enchentes que afetaram principalmente Blumenau. Em todas as 60 cidades atingidas, mais de 1,5 milhão de pessoas foram diretamente afetadas.
Desastres relacionados ao fenômeno
Santa Catarina tem sua história marcada por uma série de eventos climáticos decorrentes do El Niño. Excesso de chuvas que resultou em milhares de desabrigados e inúmeros mortos ao longo dos anos.
Em julho de 1983
As chuvas deixaram 197.790 desabrigados e 49 mortos em 90 municípios. Blumenau, Itajaí e Rio do Sul foram as mais atingidas, num dos desastres mais traumáticos .
Em maio de 1992
Ocorreram inundações em 77 cidades
das regiões Oeste, Norte e Vale do Itajaí. Foram 16 mortes e 145 mil desabrigados em todo o Estado.
Em fevereiro de 1995
O rio Cubatão, em Joinville, no Norte do Estado, transbordou e vários bairros ficaram
alagados. O fato alterou o cotidiano de pelo menos 70 mil pessoas.
Em setembro de 2009
Um tornado atingiu o Oeste de Santa
Catarina. Na ocasião, os ventos chegaram a ultrapassar a marca dos 120 km/h. Quatro pessoas morreram e 1,1 mil perderam suas residências.
Fonte: www.diariocatarinense.clicrbs.com.br