Cientistas descobriram uma nova espécie de sapo na Serra do Quiriri, localizada no Norte de Santa Catarina. O animal mede um pouco mais de um centímetro. Os pesquisadores acreditam que é possível que essa espécie só possa ser encontrada em um único morro da Serra do Quiriri, em áreas pertencentes aos municípios de Campo Alegre e Garuva.
O primeiro modelo do sapo Brachycephalus quiririensis foi coletado em 2011 em Campo Alegre. Outros exemplares da mesma espécie foram colhidos em janeiro deste ano.
Em 13 de agosto, o artigo sobre o sapo foi publicado no periódico de língua inglesa de ciências médicas e biológicas “PeerJ”. Os autores são os cientistas Márcio Pie e Luiz Fernando Ribeiro, ambos pesquisadores associados do Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais.
Pie esteve na primeira e nas outras coletas de exemplares do sapo. O foco do projeto dos cientistas na Serra do Quiriri era justamente tentar descobrir novas espécies que vivem em locais com maior altitude. “A gente tem estudado espécies de sapos nos últimos cinco anos”, disse.
Geografia específica
Com plantas distintas e uma região mais fria e úmida, o que se encontra nos morros da Serra do Quiriri são “alguns animais com distribuição geográfica pequena”, explicou o pesquisador. Pie explica que foram encontradas mais duas novas espécies, cujos respectivos artigos estão em avaliação.
Exceto pela plantação de pinus, não há muito introdução de ação humana nesses morros, explicou Vivian Uhlig, do Centro Nacional de Pesquisa e Convervação de Répteis e Anfíbios, parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Por essa razão, não se tinha feito um bom catálogo de animais que vivem na área.
“É provável que cada morro contenha uma espécie diferente de sapo”, disse a pesquisadora. Muitos dos anfíbios da área são descobertos pelo som, gravados com equipamentos. “Essas espécies começaram a derivar pelo isolamento geográfico. Cada morro ficou isolado, não tem trânsito de espécies entre morros”, afirmou.
Conservação
A ideia agora é pensar estratégias de conservação junto ao ICMBio e a Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma). Segundo Pie, o sapo vive em uma área sem nenhuma faixa de conservação.
A pressão à espécie é por conta das plantações de pinus – espécie exótica – e da pecuária. “Apesar de ser uma área de montanha, a criação de gado é forte ameaça a esse anfíbio tão vulnerável”, afirma Pie.
Apesar de viver em uma área não protegida, ainda não é possível dizer que o sapo está em algum grau de extinção. Uhlig explicou que, como a família dos Brachycephalus foi recentemente descrita, não passou por uma avaliação do estado de conservação por parte do ICMBio. O Instituto, periodicamente, produz uma relação de espécies ameaças. O sapo deve ser analisado durante a realização da próxima lista.
Ela enfatizou que é importante o estudo desse anfíbio para entender a cadeia alimentar do local onde ele vive. Além disso, pode-se descobrir algum uso medicinal para alguma substância que ele produza.
Como dizer se é uma nova espécie?
Para que os cientistas indiquem que uma nova espécie foi descoberta, há todo um procedimento. Uhlig explicou que, primeiramente, os pesquisadores fazem a coleta do primeiro exemplar da espécie encontrado, o modelo, chamado de holótipo.
Em seguida, são recolhidos outros indivíduos que os biólogos acreditam ser da mesma espécie. Esses são chamados de parátipos. Depois, as amostras dos animais devem ser catalogadas em um museu.
É importante a existência desses espaços para coleções zoológicas e botânicas porque, desse modo, os cientistas podem fazer comparações entre espécies. No caso de um animal, por exemplo, podem ser analisados tamanhos de ossos, comprimento total, dos olhos, número de dígitos e glândulas.
Há espécies que podem ser diferenciadas apenas por DNA. Não é o caso do Brachycephalus quiririensis, que pode ser distinguido por medidas e cores.
Para cada espécie, o biólogo deve descrever um rol de características. Com a comparação feita com outros animais, o cientista pode fazer a classificação dentro de uma família já existente. Por fim, o pesquisador define um nome à espécie, seguindo as normas científicos, e escrever um artigo sobre ela, dando todas as características, e submetê-lo a uma publicação.
O que foi escrito será analisado por uma equipe de revisores especializada no assunto, o que toda publicação científica obrigatoriamente tem. Caso o artigo seja aceito, a nova espécie é catalogada e reconhecida mundialmente.
Fonte: g1.globo.com